Quando vou começar a melhorar na terapia? Uma resposta honesta para mulheres ansiosas

Descubra quando os primeiros resultados da psicoterapia podem aparecer e entenda por que a ansiedade por mudanças imediatas pode atrapalhar seu progresso emocional.

Luana Sousa

8/4/20253 min ler

Mulher reflexiva sentada olhando para a janela com um semblante sereno
Mulher reflexiva sentada olhando para a janela com um semblante sereno

Você finalmente decidiu cuidar da sua saúde mental. Iniciou a psicoterapia, está tentando se abrir… mas, no fundo, a pergunta que ecoa é: “Quando vou começar a melhorar?”

Essa dúvida não é sinal de fraqueza — ela é parte da ansiedade. Se você é uma mulher que se cobra demais, talvez já tenha conquistado muitas coisas, mas ainda sente que o emocional continua sendo um ponto cego, este texto é para você. Vamos falar com honestidade (e base científica) sobre os tempos e os processos da psicoterapia.

É natural que mulheres ansiosas e com altos padrões de autoexigência esperem resultados visíveis o mais rápido possível. E, sinceramente, quem tem fome, tem pressa. É esperado que alguém em sofrimento emocional deseje alívio imediato. No entanto, vivemos em uma cultura onde tudo precisa ser rápido, eficiente e produtivo — e essa lógica do imediatismo contamina também a forma como lidamos com o cuidado emocional.

Mas o emocional tem outro ritmo. Ele não é uma linha ascendente de alta performance, e nem sempre apresenta melhoras visíveis de imediato. Muitas vezes, o progresso é sutil, interno e não linear.

Estudos indicam que aproximadamente 50% dos pacientes podem alcançar mudanças significativas entre 11 a 18 sessões (Anderson & Lambert, 2001; Hansen et al., 2002; Kadera et al., 1996; Kopta et al., 1994; Harnett, O'Donovan & Lambert, 2010). No entanto, muitos fatores influenciam esse processo: a qualidade do vínculo terapêutico, frequência das sessões, gravidade dos sintomas, motivação, suporte externo, entre outros. Por isso, definir metas claras e manter um espaço de colaboração ativa entre você e seu terapeuta é essencial.

Mas o que exatamente significa “melhorar”?
Talvez o alívio emocional seja uma das primeiras sensações percebidas — mas ele não é o único critério. Melhorar também é aprender a identificar padrões, desenvolver novas formas de lidar com suas emoções, fazer escolhas mais conscientes. Às vezes, no início, a terapia parece "piorar tudo". Isso acontece porque ela traz à tona questões que foram evitadas por muito tempo. E isso faz parte do processo. Antes de organizarmos algumas gavetas, precisamos fazer uma certa bagunça.

A psicoterapia é, de certa forma, uma reabilitação emocional. Vai exigir esforço, repetição, cuidado e tempo. Afinal, nossos padrões disfuncionais não se formaram da noite para o dia. Foram anos desenvolvendo uma autoestima frágil, evitando o enfrentamento de medos, alimentando pensamentos catastróficos e ruminando dores. Esses padrões foram repetidos tantas vezes que se automatizaram no nosso cérebro.

A boa notícia é: o cérebro é capaz de aprender novos caminhos.
Da mesma forma que criamos automatismos disfuncionais, podemos substituí-los por padrões mais saudáveis — com treino, consistência e orientação.

Esse processo, no entanto, não é passivo.
A terapia não é algo que fazem por você — é algo que você faz por si. Como paciente, seu papel é ativo e central. É você quem transforma sua realidade. E esse processo não é linear, estável ou performático. É como uma construção: tijolo por tijolo, você vai erguendo algo sólido. Às vezes, o progresso parece invisível, mas ele está ali, sustentando tudo.

Se você está se perguntando “quando vai começar a melhorar?”, saiba:
o fato de estar fazendo essa pergunta já mostra que você está olhando para si com mais atenção. E isso — já é uma forma de melhora.

A ansiedade pede pressa.
Mas a psicoterapia oferece algo mais profundo: uma recuperação sólida, e não urgente.

Estudos citados:
  • Anderson, E. M., & Lambert, M. J. (2001). Psychotherapy outcomes and quality improvement: Introduction to the special section on patient-focused research. Journal of Consulting and Clinical Psychology, 69(2), 147–149. https://doi.org/10.1037/0022-006X.69.2.147

  • Hansen, N. B., Lambert, M. J., & Forman, E. M. (2002). The psychotherapy dose-response effect and its implications for treatment delivery services. Clinical Psychology: Science and Practice, 9(3), 329–343. https://doi.org/10.1093/clipsy.9.3.329

  • Kadera, S. W., Lambert, M. J., & Andrews, A. A. (1996). How much therapy is enough? A session-by-session analysis of the psychotherapy outcome in the NIMH Treatment of Depression Collaborative Research Program. Journal of Psychotherapy Practice and Research, 5(2), 132–143.

  • Kopta, S. M., Howard, K. I., Lowry, J. L., & Beutler, L. E. (1994). Patterns of symptomatic recovery in psychotherapy. Journal of Consulting and Clinical Psychology, 62(5), 1009–1016. https://doi.org/10.1037/0022-006X.62.5.1009

  • Harnett, P. H., O'Donovan, A., & Lambert, M. J. (2010). The dose response relationship in psychotherapy: A veteran's affairs clinical demonstration. Journal of Clinical Psychology, 66(2), 194–206. https://doi.org/10.1002/jclp.20643