Você finalmente decidiu cuidar da sua saúde mental. Iniciou a psicoterapia, está tentando se abrir… mas, no fundo, a pergunta que ecoa é: “Quando vou começar a melhorar?”
Essa dúvida não é sinal de fraqueza — ela é parte da ansiedade. Se você é uma mulher que se cobra demais, talvez já tenha conquistado muitas coisas, mas ainda sente que o emocional continua sendo um ponto cego, este texto é para você. Vamos falar com honestidade (e base científica) sobre os tempos e os processos da psicoterapia.
É natural que mulheres ansiosas e com altos padrões de autoexigência esperem resultados visíveis o mais rápido possível. E, sinceramente, quem tem fome, tem pressa. É esperado que alguém em sofrimento emocional deseje alívio imediato. No entanto, vivemos em uma cultura onde tudo precisa ser rápido, eficiente e produtivo — e essa lógica do imediatismo contamina também a forma como lidamos com o cuidado emocional.
Mas o emocional tem outro ritmo. Ele não é uma linha ascendente de alta performance, e nem sempre apresenta melhoras visíveis de imediato. Muitas vezes, o progresso é sutil, interno e não linear.
Estudos indicam que aproximadamente 50% dos pacientes podem alcançar mudanças significativas entre 11 a 18 sessões (Anderson & Lambert, 2001; Hansen et al., 2002; Kadera et al., 1996; Kopta et al., 1994; Harnett, O'Donovan & Lambert, 2010). No entanto, muitos fatores influenciam esse processo: a qualidade do vínculo terapêutico, frequência das sessões, gravidade dos sintomas, motivação, suporte externo, entre outros. Por isso, definir metas claras e manter um espaço de colaboração ativa entre você e seu terapeuta é essencial.
Mas o que exatamente significa “melhorar”?
Talvez o alívio emocional seja uma das primeiras sensações percebidas — mas ele não é o único critério. Melhorar também é aprender a identificar padrões, desenvolver novas formas de lidar com suas emoções, fazer escolhas mais conscientes. Às vezes, no início, a terapia parece "piorar tudo". Isso acontece porque ela traz à tona questões que foram evitadas por muito tempo. E isso faz parte do processo. Antes de organizarmos algumas gavetas, precisamos fazer uma certa bagunça.
A psicoterapia é, de certa forma, uma reabilitação emocional. Vai exigir esforço, repetição, cuidado e tempo. Afinal, nossos padrões disfuncionais não se formaram da noite para o dia. Foram anos desenvolvendo uma autoestima frágil, evitando o enfrentamento de medos, alimentando pensamentos catastróficos e ruminando dores. Esses padrões foram repetidos tantas vezes que se automatizaram no nosso cérebro.
A boa notícia é: o cérebro é capaz de aprender novos caminhos.
Da mesma forma que criamos automatismos disfuncionais, podemos substituí-los por padrões mais saudáveis — com treino, consistência e orientação.
Esse processo, no entanto, não é passivo.
A terapia não é algo que fazem por você — é algo que você faz por si. Como paciente, seu papel é ativo e central. É você quem transforma sua realidade. E esse processo não é linear, estável ou performático. É como uma construção: tijolo por tijolo, você vai erguendo algo sólido. Às vezes, o progresso parece invisível, mas ele está ali, sustentando tudo.
Se você está se perguntando “quando vai começar a melhorar?”, saiba:
o fato de estar fazendo essa pergunta já mostra que você está olhando para si com mais atenção. E isso — já é uma forma de melhora.
A ansiedade pede pressa.
Mas a psicoterapia oferece algo mais profundo: uma recuperação sólida, e não urgente.
Estudos citados:
Anderson, E. M., & Lambert, M. J. (2001). Psychotherapy outcomes and quality improvement: Introduction to the special section on patient-focused research. Journal of Consulting and Clinical Psychology, 69(2), 147–149. https://doi.org/10.1037/0022-006X.69.2.147
Hansen, N. B., Lambert, M. J., & Forman, E. M. (2002). The psychotherapy dose-response effect and its implications for treatment delivery services. Clinical Psychology: Science and Practice, 9(3), 329–343. https://doi.org/10.1093/clipsy.9.3.329
Kadera, S. W., Lambert, M. J., & Andrews, A. A. (1996). How much therapy is enough? A session-by-session analysis of the psychotherapy outcome in the NIMH Treatment of Depression Collaborative Research Program. Journal of Psychotherapy Practice and Research, 5(2), 132–143.
Kopta, S. M., Howard, K. I., Lowry, J. L., & Beutler, L. E. (1994). Patterns of symptomatic recovery in psychotherapy. Journal of Consulting and Clinical Psychology, 62(5), 1009–1016. https://doi.org/10.1037/0022-006X.62.5.1009
Harnett, P. H., O'Donovan, A., & Lambert, M. J. (2010). The dose response relationship in psychotherapy: A veteran's affairs clinical demonstration. Journal of Clinical Psychology, 66(2), 194–206. https://doi.org/10.1002/jclp.20643