Como parar de ser workaholic: Estratégias da psicologia para desligar a mente e definir limites inteligentes.
Workaholism é compulsão, não dedicação. Descubra as estratégias da psicologia para vencer a rigidez, desligar a mente da autocobrança e construir limites inteligentes no trabalho sem perder a alta performance.
ANSIEDADESAÚDE MENTAL DA MULHERSAÚDE FEMININAAUTOCOBRANÇAWORKAHOLIC
Psicóloga Luana Sousa
10/24/20256 min ler


Se você é uma mulher que valoriza a excelência e a alta performance, construindo sua vida sobre o pilar do esforço e da produtividade, é provável que já tenha se perguntado onde termina a dedicação e onde começa a exaustão.
O Workaholism não é uma falha moral ou um defeito. Na verdade, é um comportamento que pode ser visto como um processo natural, que se tornou rígido e disfuncional. A nossa mente cria soluções para lidar com alguns problemas, e isso é essencial. Mas nem sempre, uma estratégia que foi útil em um contexto específico, vai continuar útil por toda vida. Assim, o trabalho duro e esforçado pode se transformar em uma compulsão. Uma solução que a sua mente cria para lidar com emoções difíceis e demandas exigentes, mas que, ironicamente, rouba sua saúde, sua paz e sua autonomia.
Para a psicologia, o Workaholism é uma forma de Evitação Experiencial: você trabalha incessantemente para fugir do desconforto de estar "parada" ou da dor da autoavaliação negativa.
Neste artigo aprofundado, que vai além do clichê de "trabalhar demais", vamos desvendar a ciência do Workaholism. Vamos entender por que essa compulsão aprisiona mentes brilhantes, traçando o mapa para a Flexibilidade Psicológica e o engajamento saudável que a psicologia propõe.
O que é workaholism?
O Workaholism (vício em trabalho) não é definido pela quantidade de horas trabalhadas, mas pela qualidade da sua relação com o trabalho.
A definição central: necessidade incontrolável
O Workaholism foi definido por Wayne Oates, em 1971, como a “necessidade incontrolável de trabalhar, perturbando a saúde, a felicidade e os relacionamentos”.
O termo "necessidade incontrolável" é crucial. Ele tira o foco da moral e o coloca na compulsão, tratando-o como um padrão de comportamento que se tornou rígido e automático. Não é o mesmo que valorizar o esforço e a dedicação ao trabalho.
Os critérios de rigidez comportamental
As pesquisas identificam o Workaholism por critérios que demonstram essa perda de controle e flexibilidade (Andreassen CS et al., 2016):
Preocupação constante: Preocupação constante com o trabalho, mesmo fora do horário de trabalho. A mente não consegue se desconectar.
Fuga de emoções: Trabalhar para evitar alterações de humor, como ansiedade ou culpa. Este é o núcleo da evitação experiencial. No fundo, a workaholic não está buscando satisfação pessoal, mas mitigar o desconforto.
Efeito de tolerância: Aumento progressivo da carga de trabalho para obter o mesmo efeito emocional, criando um efeito de tolerância à dose. É a tentativa de controlar emoções exigindo sempre mais esforço. À medida que mais carga de trabalho é adicionada, acontece uma dessensibilização e se precisará de uma carga ainda maior para ter o mesmo efeito de fugir das emoções difíceis.
Abstinência (disforia): Disforia ou desconforto ao ser impedido de trabalhar, semelhante à sensação de abstinência. O descanso dispara a ansiedade evitada. Nesse momento você pode começar a se sentir culpada por descansar e parece que todo esforço que já fez está sendo desperdiçado.
Conflito e negligência: Conflito com necessidades pessoais ou familiares, negligenciando descanso e lazer. O trabalho invade o espaço dos seus valores (Família, Saúde, Lazer). Além de toda carga de trabalho, você pode precisar lidar com exigências da família, problemas de saúde e estresse crônico que provocam um efeito rebote à sua performance.
2. O que está por trás do workaholism?
A psicologia entende que a dor é inevitável. Os problemas surgem quando tentamos controlar ou evitar essa dor a todo custo. O Workaholism é o exemplo clássico de uma tentativa de controle que deu errado.
O processo de evitação experiencial
A Evitação Experiencial é o motor do Workaholism. Você não está trabalhando por propósito; você está trabalhando para fugir da ansiedade, da culpa ou da autoavaliação negativa que surge quando você está parada.
Dor interna (PAN): A mente dispara o Pensamento Automático Negativo (PAN): "Se eu parar, eu sou preguiçosa/incompetente/perco meu valor."
A fuga: O trabalho oferece uma fuga temporária e socialmente aceitável dessa dor. Ele mantém sua mente ocupada, permitindo que você evite o contato com a ansiedade subjacente.
A armadilha: Quanto mais você trabalha para evitar a ansiedade, mais forte sua mente aprende que a única segurança é a compulsão. O descanso passa a ser o gatilho da ansiedade.
Rigidez psicológica: A lógica do "ter que"
A Rigidez Psicológica é o oposto da saúde mental. Ela é marcada por:
Fusão cognitiva: A mente está fundida com as regras rígidas (ex: "Eu tenho que ser perfeita" ou "Meu valor é meu desempenho"). Você não vê a regra; você é a regra.
Falta de contato com valores: O comportamento (trabalhar incessantemente) se desconecta dos seus valores mais profundos (saúde, família, conexão) para atender à regra interna de perfeição/não-falha.
O Workaholism é o resultado dessa rigidez: o comportamento de trabalhar compulsivamente se torna mais importante do que seus valores, levando à negligência e ao conflito.
3. Qual a diferença entre workaholismo e dedicação/esforço?
É crucial desmantelar o mito de que Workaholism é a única via para a excelência.
A ciência demonstra que o engajamento saudável é marcado pela dedicação associada ao entusiasmo, vigor e sentimento de realização. Já o Workaholism é compulsivo, obsessivo e associado a consequências negativas como burnout e insônia.
A prevalência global do Workaholism varia amplamente, entre 5% e 25%, dependendo da população e dos instrumentos de medição utilizados. Isso mostra que a compulsão é um desafio significativo na nossa sociedade de alta performance.
4. Como superar o vício em trabalho?
Para sair da armadilha do Workaholism, a solução é construir a Flexibilidade Psicológica e desestruturar as regras rígidas.
Desfusão cognitiva: Nomeando o crítico interno
O primeiro passo é separar-se do pensamento, em vez de evitá-lo.
A ferramenta: Desfusão cognitiva. O pensamento "Eu tenho que trabalhar mais ou serei um fracasso" não é um fato; é um pensamento.
Pratique a técnica: "Eu estou tendo o pensamento de que tenho que trabalhar mais."
Resultado: Ao nomear o pensamento, você cria espaço entre você (o observador) e a regra (o conteúdo da sua mente). Isso enfraquece a força da compulsão e permite que você escolha uma resposta mais alinhada aos seus valores.
Aceitação e abertura: Deixando a ansiedade ficar
Se o Workaholism é evitação, o antídoto é a aceitação.
Ação: Em vez de correr para o trabalho quando a culpa de descansar surge, permita que a sensação de culpa ou ansiedade fique. Sente-se com ela, respire, e note os sintomas sem tentar mudá-los.
Resultado: Você prova ao seu corpo que o descanso não leva ao desastre, mesmo que gere desconforto. Você quebra o ciclo de reforço que ligava o Workaholism à fuga.
Reestruturação da regra: Evidência contra a rigidez
Você precisa usar sua inteligência analítica para desmantelar a lógica distorcida:
O desafio: Quando o Pensamento Dicotômico (Tudo-ou-Nada) disser que você é um fracasso, use a análise de evidências para provar o contrário. Quais são os fatos que contradizem a crença de "Eu Sou Meu Desempenho"?
Construção da resposta funcional: Substitua a regra: "Eu não sou meu desempenho. O meu valor é inerente. Meu esforço será guiado pelo meu propósito, e não pela minha ansiedade."
Ação comprometida: Alinhamento com valores
O Workaholism te desconecta dos seus valores (saúde, conexão, lazer). A ação final é escolher o comportamento que te move na direção do que é importante.
Ação: Defina uma ação comprometida, mesmo pequena, alinhada com um valor negligenciado (Ex: Dedicar 30 minutos inegociáveis à leitura ou a um hobby).
Resultado: Você prova ao seu sistema que é possível agir fora da regra da compulsão, movendo-se em direção a uma vida rica e significativa.
A flexibilidade psicológica liberta sua performance
O Workaholism é o sinal de que a sua imensa capacidade de esforço foi aprisionada por uma lógica de valor distorcida. Essa lógica exige que você trabalhe de forma incontrolável, perturbando sua saúde, felicidade e relacionamentos.
Você não precisa renunciar à excelência; você precisa resgatar o seu querer do seu ter que. A cura está em aceitar o desconforto e construir a Flexibilidade Psicológica para que seu trabalho seja uma expressão do seu propósito, e não uma fuga da sua ansiedade.
A psicologia oferece a estrutura para desativar a compulsão, aceitar os limites e resgatar o entusiasmo genuíno que foi sufocado pela rigidez.
Se você sente que a sua vida se tornou uma esteira de trabalho incontrolável e que a sua ansiedade está mascarada como produtividade, o primeiro passo é buscar o método para a sua autonomia.
Você dedicou seu tempo para ler este artigo porque sabe que o Workaholism é mais do que cansaço; é uma compulsão que roubou sua autonomia e aprisionou sua excelência.
Sua mente de alta performance não precisa de soluções genéricas ou frases motivacionais. Ela precisa de um método estruturado para quebrar a rigidez psicológica e resgatar o entusiasmo genuíno que foi sufocado pela ansiedade de performance.
Não tente fazer a Desfusão Cognitiva ou a Aceitação de forma isolada. A liberdade e a flexibilidade psicológica são construídas com intencionalidade e acompanhamento.
Se você está pronta para trocar a exaustão pela autonomia e o "ter que" pelo propósito, reserve o seu horário.
Vamos construir o método para a sua liberdade.
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